
Foto: Carlos Moura/Agência Senado
Da redação
Investigado como um dos principais envolvidos no escândalo conhecido como “Farra do INSS”, Abraão Lincoln Ferreira da Cruz, presidente da Confederação Brasileira dos Trabalhadores de Pesca e Aquicultura (CBPA), possui um histórico jurídico marcado por condenações e investigações que vão além dos descontos indevidos aplicados em benefícios previdenciários.
Em agosto de 2024, Abraão foi condenado por crime de caixa dois eleitoral, relacionado às eleições de 2014. Segundo o Ministério Público, ele utilizou a conta bancária de uma secretária como “laranja” para movimentar recursos não declarados. O esquema envolvia saques realizados por seu filho e depósitos considerados atípicos, incluindo R$ 86 mil oriundos de um policial militar e R$ 46 mil enviados pela própria esposa.
Além da condenação, a CBPA tornou-se alvo de um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU), que apontou inconsistências graves na estrutura e no crescimento da entidade. Sediada em uma pequena sala comercial em Brasília, com funcionamento restrito a duas horas diárias, a confederação alega possuir 757 mil associados, apesar de não contar com funcionários registrados.
Segundo a CGU, o crescimento da CBPA é estatisticamente inviável. Em 2023, a entidade saltou de quatro para mais de 340 mil filiados em poucos meses. Para atingir esse volume, seria necessário registrar cerca de 17,7 novos descontos por minuto, ritmo considerado impossível diante da estrutura existente.
As investigações também identificaram tentativa de inclusão indevida de descontos em benefícios de mais de 40 mil pessoas já falecidas. Entre os aposentados que formalizaram reclamações relacionadas à CBPA, 99% afirmaram não ter autorizado qualquer tipo de desconto. Em apenas dois anos, a entidade arrecadou R$ 221,8 milhões.
Abraão Lincoln já havia sido preso em 2015 durante a Operação Enredados, acusado de liderar uma organização criminosa que vendia licenças ambientais no então Ministério da Pesca. Em novembro de 2024, voltou a ser detido, desta vez por falso testemunho durante depoimento à CPMI do INSS. Ele negou vínculo próximo com o tesoureiro da CBPA, Gabriel Negreiros, mas foi confrontado com imagens que mostravam Negreiros como padrinho de seu neto, além da revelação de um depósito de R$ 5 milhões feito por Abraão na conta pessoal do tesoureiro.
Ex-presidente do partido Republicanos no Rio Grande do Norte, Abraão mantém relações com políticos e integrantes do alto escalão do INSS. A CBPA é citada nas investigações como uma das fontes pagadoras de Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, apontado como lobista central no esquema de corrupção.
As apurações da Polícia Federal e da CGU seguem em andamento, impulsionadas por denúncias que indicam que a arrecadação dessas entidades associativas chegou a cerca de R$ 2 bilhões em um único ano.