
Foto: Siderlei Ditadi/Projeto Imagem
por José Falcón Lopes
Garantir a sustentabilidade a longo prazo dos novos empreendimentos vitivinícolas do Brasil. Para a pesquisadora Patrícia Souza Leão, da Embrapa Semiárido, este é o principal motivo pelo qual variedades híbridas de uvas estão sendo avaliadas pela pesquisa como alternativas mais sustentáveis do que as variedades clássicas de Vitis vinifera na produção de vinhos finos.
Responsável pela curadoria do Banco Ativo de Germoplasma (BAG) de Uvas da Embrapa Semiárido, localizado no Campo Experimental de Mandacaru, em Juazeiro (Bahia), Patrícia Souza Leão apresentou a coleção de 268 variedades cultivadas no BAG para os profissionais de comunicação convidados para a “press trip” do Projeto Imagem ao Vale do São Francisco no mês de junho deste ano.
A pesquisadora explicou que as variedades híbridas são mais resistentes a pragas e doenças e mais adaptadas aos diferentes climas do Brasil.
“Vejo como uma tendência promissora na viticultura o avanço das variedades híbridas resistentes tanto em cortes com uvas finas ou para a elaboração de vinhos de mesa de qualidade similar aos de Vitis vinifera. A questão varietal, para quem não conhece de vinhos é irrelevante. Mas para o produtor faz toda a diferença produzir uma variedade vitis vinífera e produzir uma variedade híbrida”, argumentou.
Patrícia Souza Leão explicou que o termo Piwi vem do alemão “Pilzwiderstandsfähige”, que significa “resistente a doenças causadas por fungos”, principalmente mildio e oidio.
Ela informou que o BAG de Uvas da Embrapa Semiárido já possui as duas variedades de uvas Piwi introduzidas no Brasil pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) para a produção de vinhos finos: a Calardis Blanc e a Felicia.
Mudança de mentalidade
A pesquisadora afirmou que o cultivo de variedades híbridas “não tem volta”, mas ainda se faz necessário uma “mudança de mentalidade geral” do mercado.
“Isso (o cultivo das variedades híbridas) não tem volta porque o mercado mais conservador do mundo, que é o europeu, já está mudando. E vai chegar num ponto que não vai ter sustentabilidade para algumas regiões no Brasil”, argumentou.
Ela citou como exemplo os empreendimentos que estão surgindo na região Nordeste, principalmente nos estados de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, onde a quantidade de chuvas é bastante intensa nas áreas próximas ao litoral.
“Nessas regiões não se consegue produzir duas safras. É uma safra só, mas não caem as folhas. Se precisa fazer mais uma poda, pulverizações muito intensivas, tem sido uma luta. Então eu enxergo as variedades Piwi e as variedades híbridas brasileiras como alternativas para viabilizar essa nova vitivinicultura que está surgindo na região Nordeste principalmente. Mas em várias regiões do Brasil estão ‘pipocando’ várias vinícolas. A gente visita as vinícolas e tudo parece simples, mas na prática não é”, afirmou.
Patrícia Souza Leão sugeriu que os empresários façam o experimento de comparar os custos de manejo e a qualidade dos produtos obtidos com uvas clássicas para processamento do tipo vitis vinífera e com as variedades híbridas.
“O produtor precisa ver o quanto de fungicida ele gasta em cada área. Depois, chamar o enólogo para elaborar os vinhos e fazer uma degustação às cegas com as duas variedades. Por exemplo, uma Sauvignon Blanc e uma BRS Bibiana para ver se ele, empresário, consegue perceber essa diferença tão absurda assim. Não consegue. É só uma mudança de mentalidade que pode trazer sustentabilidade para os empreendimentos”, afirmou.
Cultivares Híbridas
A Embrapa desenvolve 11 cultivares híbridas de uva para processamento e 13 cultivares híbridas de uva de mesa.
As cultivares de uva para processamento são: BRS Bibiana, BRS Magna, BRS Carmen, BRS Margot, BRS Violeta, BRS Cora, Isabel Precoce, BRS Lorena, Concord Clone 30, BRS Rúbea e Moscato Embrapa.
As cultivares de uva de mesa da Embrapa são: BRS 54 Lumiar, BRS Melodia, BRS Núbia, BRS Ísis, BRS Vitória, BRS Morena, BRS Clara, BRS Linda, Dona Zilá e Tardia de Caxias.
Os produtores interessados em adquirir mudas das variedades BRS da Embrapa devem entrar em contato com viveiristas comerciais licenciados. A relação completa dos viveiristas licenciados está disponível no site https://www.embrapa.br/uva-e-vinho/viveiristas-licenciados.
Projeto Imagem
As atividades do Projeto Imagem fazem parte de um convênio firmado entre o Instituto de Gestão, Planejamento e Desenvolvimento da Vitivinicultura do Estado do Rio Grande do Sul (Consevitis-RS) e o Sebrae Nacional para dar visibilidade ao potencial das regiões vitivinícolas brasileiras.
A “press trip” do Projeto Imagem às vinícolas do Vale do São Francisco e ao Campo Experimental da Embrapa Semiárido contou com o apoio do Instituto do Vinho do Vale do São Francisco (Vinhovasf).