Editorial — o silêncio que insiste após o impacto
Há menos de um mês, o episódio trágico que tirou a vida de três mulheres — duas professoras e uma jovem — sacudiu Ilhéus e expôs o sofrimento de famílias e de uma cidade inteira. A cobertura foi intensa: equipes de mídia nacional estiveram aqui, manchetes dominaram as redes, e o nome da cidade reverberou no país inteiro.
Mas afinal, o que resta dessa atenção toda? A mídia — local e nacional — seguiu seu curso. Novos temas emergiram, novas pautas tomaram o lugar. O que era notícia urgente parece agora rodeado por um silêncio pesado, quase natural. E as perguntas ecoam: será que nos acostumamos com a tragédia?
Investigadores continuam trabalhando — a prisão de um suspeito em situação de rua gerou repercussão, e a Polícia Civil segue na busca por provas, análises de imagens, depoimentos e exames periciais. Mas, para muitas pessoas, a memória coletiva já perdeu o fôlego.
O autor confesso do crime, um andarilho que foi detido após ser flagrado com drogas, confessou ter cometido o triplo homicídio e até um outro crime similar — ele admitiu também ter matado um companheiro em outro episódio violento. Ainda assim, em meio às investigações, o burburinho se dissipa.
Entra então o silêncio que, mais que naturalizar, promete soterrar. Não se trata de julgamento ou crítica. É uma constatação: o ritmo da atividade jornalística, da vida coletiva, tende ao esquecimento — e quem permanece nesse vácuo é quem perdeu tudo. As famílias das vítimas, a comunidade escolar, o sentimento coletivo de dor que segue sem lugar de fala.
Este editorial é um convite à reflexão: o que fazemos com o silêncio que segue o choque? Para onde vai a solidariedade que o momento exigia? E o mais urgente: estamos dispostos a ouvir o que ainda ecoa desses três casos, ou preferimos que o tempo cuide do silêncio por nós?