
Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília
Da Redação
A Bahia registrou 111 casos de feminicídio em 2024, uma redução de 3,5% em comparação com 2023, quando foram contabilizados 115 ocorrências. Apesar da queda, o dado não indica tendência de diminuição, já que em 2021 foram 88 casos, em 2022 foram 107 e, no ano seguinte, 115, conforme aponta o primeiro anuário do Instituto de Segurança Pública, Estatística e Pesquisa Criminal (ISPE).
Um dos sinais de alerta é o aumento expressivo das tentativas de feminicídio, que cresceram 31,28% em relação a 2023. No ano passado, 235 mulheres sobreviveram a ataques em que a intenção era matá-las — 56 casos a mais do que no ano anterior.
Interior em alta, capital em queda
A análise territorial dos dados revela cenários distintos. Salvador apresentou uma redução significativa, de 55%, passando de 20 feminicídios em 2023 para 9 em 2024. A Região Metropolitana também teve queda, embora o documento destaque que 12 cidades ainda registraram crimes do tipo. Já no interior, os casos aumentaram 9,2%.
Segundo o diretor do ISPE, delegado Omar Andrade Leal, os números indicam que as políticas de proteção à mulher estão mais consolidadas em grandes centros urbanos, mas ainda enfrentam dificuldades em áreas rurais e cidades menores, “onde a cultura do machismo ainda se faz fortemente presente”.
O levantamento mostra que a maioria das vítimas era formada por mulheres solteiras, entre 31 e 46 anos, com ensino fundamental ou médio e que atuavam em trabalhos informais ou como responsáveis pelo lar. Para o instituto, esse perfil reforça a conexão entre vulnerabilidade socioeconômica e violência de gênero.
A principal motivação dos crimes continua sendo o sentimento de posse e o inconformismo com o fim de relacionamentos. Em 93% dos casos, os agressores eram companheiros, maridos, namorados ou ex-parceiros. A residência das vítimas foi o local mais comum dos assassinatos (61%), sendo a arma branca o meio mais utilizado (44%), seguida por arma de fogo (36%).
Violências em crescimento
Além do feminicídio, o anuário aponta alta em outros tipos de violência contra mulheres entre 2023 e 2024. Os registros de violência psicológica cresceram 6,5% (de 4.213 para 4.487), os de violência moral subiram 6,2% (de 1.982 para 2.004), os de violência patrimonial aumentaram 5% (de 1.146 para 1.203), os de violência sexual cresceram 5,1% (de 2.389 para 2.511) e os de violência física tiveram alta de 3,9% (de 5.671 para 5.894). Também houve aumento de 5,9% nos pedidos de medidas protetivas.
Para reduzir os índices no interior, o estudo recomenda ampliar e descentralizar os serviços de proteção, com mais Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs), fortalecimento da rede psicossocial e jurídica e ações contínuas de conscientização e combate à cultura machista.