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Da Redação
Brasileiros que desembarcaram nesta semana no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins (MG), vindos dos Estados Unidos, afirmam que foram coagidos a aderir a um programa de deportação voluntária lançado neste ano pelo governo de Donald Trump. A medida, segundo eles, teria servido para acelerar a retirada do grupo do território americano. As informações são da Folha de S.Paulo.
O voo partiu da Louisiana, fez escala na República Dominicana e chegou ao Brasil às 18h13 da última quarta-feira (27). O desembarque, testemunhado pela reportagem da Folha, foi rápido: em menos de 30 minutos, todos haviam passado pelo portão. Os brasileiros vestiam uniformes de centros de detenção e carregavam apenas sacolas com alguns pertences, muitos sem portar documentos.
Na chegada, foram recebidos por funcionários da ONU e do Ministério dos Direitos Humanos, que se disseram surpresos com as condições em que o grupo se encontrava.
A aeronave, um Boeing 737 MAX-8 fretado pela Gol, foi contratada pelo governo americano para trazer deportados ao Brasil. A companhia declarou à coluna Painel S.A., da Folha, que transportava apenas deportados voluntários. No entanto, passageiros relataram que a maioria estava presa havia meses nos EUA e que ninguém havia optado por deixar o país.
Segundo depoimentos, os brasileiros foram obrigados a assinar documentos de autodeportação já dentro do avião, logo após terem as algemas retiradas por agentes do ICE (Agência de Imigração e Alfândega dos EUA).
Procurada pela Folha, a embaixada dos Estados Unidos em Brasília disse que o país deporta estrangeiros em situação irregular “de forma segura, respeitosa e frequente”. Informou ainda que os inscritos no programa voluntário poderiam receber passagem gratuita, um bônus de US$ 1.000 e a possibilidade de retorno legal ao país. Não respondeu, entretanto, aos questionamentos sobre relatos de maus-tratos.
Um dos deportados foi Erivelton Natalino da Silva, que morava com a esposa e as duas filhas nos EUA há mais de 20 anos. Ele disse à Folha que tinha número social válido e aguardava a cidadania americana, com autorização de residência renovada em janeiro por mais cinco anos. Em junho, porém, foi preso e colocado em um voo de deportação, apesar de o advogado da família ter recorrido judicialmente. A esposa afirmou que desconhecia o paradeiro de Erivelton até o desembarque em Minas Gerais.
Outro passageiro, Carlos Fagundes, contou que passou por oito penitenciárias durante três meses de detenção. Ele relatou que fez todos os trajetos algemado, sem água e sem alimentação adequada. “Chegamos a ficar até 20 horas sem comer nem beber nada. No voo saímos às 6h e só fomos comer à meia-noite”, disse. “Nos EUA não existe mais lei, nem de imigração.”
Os relatos apontam também superlotação, falta de higiene e condições insalubres nos centros de detenção. “Era impossível ficar de pé, se a gente levantasse pisava nos outros. Ficamos dias sem banho e sem escovar os dentes”, acrescentou Carlos.
Alguns passageiros mostraram à Folha cópias de documentos assinados sob coerção com instruções para retirada do auxílio de US$ 1.000 prometido pelo programa “Project Homecoming”. Entretanto, para acessar o benefício, é necessário apresentar passaporte, que muitos deportados afirmam não ter mais em mãos.