O cineasta, roteirista e ator Luciano Vidigal é o convidado do próximo episódio do PODTUDO, apresentado por Rafael Raposo e André Gabeh, que vai ao ar nesta quinta-feira (5). Na conversa, ele relembra sua trajetória, comenta os bastidores do cinema nacional e reflete sobre temas como racismo estrutural, mercado audiovisual e o protagonismo da favela na construção das próprias narrativas.
Criado no Vidigal, Luciano comenta a mudança de perspectiva do audiovisual para a favela, de “Cidade dos Homens” para o longa “5x Favela - Agora por Nós Mesmos” que levou o protagonismo das periferias brasileiras para o Festival de Cannes. “A gente era objeto e não sujeito. O cinema brasileiro filmou a favela e os nossos corpos nesse lugar de objeto. Tinha coisa que a gente não concordava, inclusive, com premissas, que a gente falava pô, isso não é verdade o que está escrito aqui. Então, realmente, esse protagonismo do sujeito, a virada começa nos anos 2000”, comenta.
O cineasta também discute os desafios de ocupar espaços na indústria sem abrir mão da autonomia criativa e financeira: “A gente está conquistando, mas ainda não é uma relação horizontal nesse lugar de espaço mesmo, né? E, principalmente financeiro... A gente ainda não está fazendo pix da nossa galera. Ah, eu vou falar. Entendeu? A série também, Cidade dos Homens, tem seus méritos ali, mas eu acho que essa injustiça financeira rola até hoje, né, cara? (...)Se a gente for falar do artista preto, na TV, inclusive, você vai descobrir os salários de pessoas ícones. Você fala, meu Deus, que violência”, dispara.
No papo, Luciano também compartilha bastidores de sua relação com Cacá Diegues, que foi produtor associado de seu longa mais recente, “Kasa Branca”, e lembra com carinho do legado do cineasta, falecido em fevereiro: “Um mestre que me passou muita coisa. Ele tinha uma coisa muito legal, que era o bastão do cinema brasileiro. Quando ele chama esses jovens da favela, ele tinha um olhar pra gente de quem diz ‘ó, vocês que vão dar continuidade a isso.’ Isso é um olhar muito inteligente, é o famoso legado”, conta.
O episódio traz ainda discussões sobre os limites (ou não) da arte, o papel da espiritualidade e da música na construção de identidade e pertencimento, além de reflexões sobre como democratizar o acesso ao cinema no Brasil. “Eu vibro quando o mototáxi entende o meu filme, quando o ambulante vem falar comigo. (...) Porque eu vim da massa, eu vivo a massa, eu sou do povo. Então, não adianta fazer um filme que fala sobre o povo e cair só no nicho intelectual que fica em festivais. Então, meu cinema busca uma coisa mais original, mas tem sensibilidade, poesia”, afirma.
O episódio completo com Luciano Vidigal estreia nesta quinta-feira (5), às 19h30, no canal do PODTUDO no YouTube. O podcast é uma parceria com a Rádio Positividade FM.
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