Clínicas vendem 'Ozempic dos ricos' sem receita, revela site


As práticas contrariam as regras da Anvisa, que exige venda exclusivamente em farmácias, em embalagens não fracionáveis, mediante prescrição médica.



Mesmo antes de ser oficialmente disponibilizado nas farmácias brasileiras, o medicamento Mounjaro, conhecido como “caneta emagrecedora”, já é alvo de comercialização irregular em clínicas de estética. Uma reportagem do site g1 publicada nesta sexta-feira (2), flagrou a venda fracionada e sem receita em estabelecimentos no Maranhão e no Piauí. Essas clínicas promovem o produto por redes sociais ou WhatsApp, oferecem avaliações de bioimpedância e consultas feitas por profissionais não médicos, como biomédicos ou nutricionistas. As práticas contrariam as regras da Anvisa, que exige venda exclusivamente em farmácias, em embalagens não fracionáveis, mediante prescrição médica.


A farmacêutica Eli Lilly, fabricante do Mounjaro, divulgou que ainda não há nenhum lote autorizado para comercialização no Brasil. Em nota, alertou que produtos vendidos atualmente podem ser falsificados ou desviados, apresentando “riscos potencialmente fatais” à saúde. Produzido com o ingrediente ativo tirzepatida, o medicamento foi aprovado em 2023 para tratamento de diabetes tipo 2 e ainda aguarda autorização para uso específico em emagrecimento. Apesar disso, médicos já podem prescrevê-lo fora da bula, desde que avaliem os riscos e benefícios.

A reportagem revelou que, em Teresina, a proprietária de uma clínica admitiu vender o Mounjaro após testar o produto em si mesma, alegando ter perdido 21 quilos. Ela descreveu protocolos que incluíam suplementação e aplicações mensais, prática criticada pela endocrinologista Simone Van de Sande Lee, que reforçou que a titulação da dose deve ser feita apenas por médicos, de forma gradual e individualizada. Em São Luís, outra clínica oferecia doses extraídas de embalagens originais, entregues por delivery, o que, segundo especialistas, aumenta os riscos de contaminação e falta de garantia da autenticidade do produto.

Dados da Receita Federal e Polícia Federal apontam para um aumento expressivo no contrabando do Mounjaro em 2025, com apreensões que somam R$ 1,2 milhão no primeiro trimestre. A Anvisa também recebeu 51 notificações de eventos adversos relacionados ao uso de tirzepatida. A partir de julho, quando o medicamento estará disponível legalmente, será exigida a retenção da receita para todas as marcas de canetas emagrecedoras, como medida de segurança.
Postagem Anterior Próxima Postagem

Leia o texto em voz alta: