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Da Redação
“Uma Vida Pequena” é um romance denso, devastador, mas também humano. Escrito pela autora havaiana Hanya Yanagihara, o livro acompanha quatro amigos — Jude, Willem, JB e Malcolm — que se conhecem na universidade e seguem caminhos distintos em Nova York. Mas quase sempre mantendo um forte vínculo de companheirismo. No início, parece uma história sobre amizade, juventude e sonhos, mas o leitor logo vai percebendo que o centro da narrativa é Jude St. Francis, um homem marcado por traumas que o acompanham por toda a vida.
Órfão, ele é abandonado ainda bebê na porta de um mosteiro, onde vive até a pré-adolescência. Lá, é vítima constante de abuso físico, sexual e psicológico por parte dos padres que o adotaram. A situação se agrava quando Jude foge com um desses monges, o Irmão Luke, que o manipula com promessas de uma vida feliz. Anos depois, vai morar num orfanado, onde segue sofrendo violência até finalmente atingir a maioridade.
Yanagihara escreve uma história de quase oitocentas páginas que desafia o leitor a permanecer, mesmo diante da dor. A autora trata temas como trauma, abuso e automutilação de forma crua, gráfica, sem pena dos personagens e do leitor. A autora não oferece alívio fácil nem esperança plena. Ela nos faz olhar de frente para o sofrimento e questionar os limites da compaixão humana.
Um dos aspectos mais interessantes do livro é o contraste entre a ternura dos laços de amizade e a crueldade das memórias que Jude tenta esconder. A relação entre ele e Willem, em especial, é o coração da narrativa — uma relação construída com cuidado, paciência e amor incondicional, mesmo quando o trauma ameaça destruir tudo.
A escrita de Yanagihara é detalhada, beirando o excesso, mas eficaz na construção ficcional. É um livro sobre sobrevivência, empatia e a tentativa de seguir em frente mesmo quando a vida parece pequena demais para suportar tanta dor. É um retrato da fragilidade humana, da persistência do afeto e da capacidade de amar, apesar de tudo.