
O radiofármaco Pluvicto mostrou eficácia em reduzir risco de progressão do câncer de próstata avançado, mas seu alto custo cerca de R$ 870 mil por paciente e a falta de infraestrutura no SUS dificultam o acesso. Novartis busca aprovação regulatória para ampliar o uso no Brasil.
(FOLHAPRESS) - O Pluvicto, um medicamento injetável da classe dos radiofármacos, mostrou novos resultados positivos em pacientes com câncer de próstata em estágio avançado. O remédio, porém, não está disponível no SUS (Sistema Único de Saúde) e pode ser obtido apenas por meio de clínicas especializadas, hospitais ou planos de saúde.
Mesmo se aprovado para uso no sistema público, o custo do tratamento completo, que pode chegar a R$ 870 mil por paciente, representa um desafio para o acesso amplo da população com a doença, segundo especialista.
O estudo PSMAddition, da farmacêutica suíça Novartis, indicou que o Pluvicto reduziu em 28% o risco de progressão ou morte em pacientes metastáticos sensíveis à hormônios, com uma tendência de prolongamento de vida.
A pesquisa de fase 3 (com grande número de participantes) foi apresentada em outubro no Congresso da Esmo (Sociedade Europeia de Oncologia Médica), em Berlim, e publicada na revista científica da sociedade.
Por enquanto, o Pluvicto é indicado apenas para tratar adultos com câncer de próstata que se espalhou pelo corpo (metastático), que fizeram quimioterapia, são resistentes à castração química (bloqueio hormonal) e positivos para PSMA (Antígeno de Membrana Específico da Próstata) -substância presente em 80% dos pacientes com câncer de próstata e fundamental para o funcionamento do remédio.
Agora, a pesquisa apresentada na Esmo mostrou que o remédio também é eficaz para os pacientes metastáticos positivos para PSMA, mas que ainda não fizeram quimioterapia e são sensíveis ao bloqueio hormonal, ou seja, estão em um estágio avançado, mas não tanto.
Um levantamento realizado pelo Instituto Lado a Lado Pela Vida mostrou que dos 44.660 casos de câncer de próstata diagnosticados pelo SUS no Brasil em 2023, 54% estavam nos estágios 3 e 4. Isso significa que a doença já havia avançado, atingindo as vesículas seminais ou se espalhando para outras partes do corpo.
Apenas em 2024, o câncer de próstata matou 48 homens por dia no Brasil, segundo levantamento da SBU (Sociedade Brasileira de Urologia), totalizando 17.587 óbitos naquele ano, mesmo sendo altamente curável se identificado precocemente.
A Novartis planeja enviar os novos resultados para as autoridades regulatórias do país até o final do ano para aprovação, o que poderá expandir o número de pacientes elegíveis para o tratamento.
"A ciência avança e traz novas opções de tratamento para a fase metastática, mas a cura está ligada à detecção precoce. Mesmo que o medicamento trate uma fase avançada da doença, é fundamental que, como sociedade, a gente faça de tudo para que o paciente não chegue a esse estágio", afirma Lenio Alvarenga, diretor médico da Novartis Brasil.
"O Pluvicto é como um cavalo de Troia. Trata-se de uma molécula que possui alta afinidade pelo PSMA, um receptor presente na superfície das células cancerosas da próstata. Quando o Pluvicto se liga ao PSMA, ele entra na célula cancerosa e libera uma substância radioativa chamada lutécio, que explode a célula", explica Igor Morbeck, especialista em tumores urológicos e líder médico regional do Grupo Oncoclínicas.
O remédio, porém, não está disponível no SUS nem em farmácias para o consumidor final. Ele só é obtido por meio de clínicas e hospitais, e tem cobertura obrigatória por planos de saúde. Cada dose de 12,5 ml pode chegar a R$ 145 mil - um tratamento completo envolve a aplicação de seis doses, totalizando cerca de R$ 870 mil por paciente.
"Os convênios são obrigados a pagar pelo medicamento, mas nem todos cumprem essa obrigação porque o orçamento não permite. Então muitos pacientes recorrem à via judicial para garantir o acesso", afirma Morbeck.
Segundo Morbeck, o alto custo do tratamento representa um desafio significativo para a incorporação do Pluvicto no SUS, mesmo se fosse aprovado.
"O impacto no orçamento seria muito grande e geraria uma pressão no sistema público. Os recursos são limitados e precisam ser geridos de forma sustentável, porque ao alocar um recurso elevado para um paciente específico, esse recurso deixa de estar disponível para outros", afirma.
Além disso, a indicação só é feita mediante um exame específico chamado PET-PSMA, que detecta a presença da proteína PSMA na superfície das células tumorais, garantindo a eficácia do tratamento.
Atualmente, o SUS não dispõe amplamente desse exame e de uma infraestrutura de medicina nuclear, necessária para as aplicações e descarte do material radioativo que o medicamento contém.