
Foto: Reprodução/G1
Da Redação
Após 36 horas de interdição, indígenas encerraram na tarde de terça-feira (8) o protesto que bloqueava um trecho da BR-101, no extremo sul da Bahia. A manifestação foi encerrada por volta das 16h30 com a mediação de um negociador, segundo confirmou a Polícia Rodoviária Federal (PRF) à TV Santa Cruz. O ato havia começado às 8h30 da segunda-feira (7), provocando um congestionamento de mais de 20 quilômetros na altura de Itamaraju, próximo ao Parque Nacional do Monte Pascoal.
O grupo reivindicava a libertação de Welington Ribeiro de Oliveira, conhecido como cacique Suruí Pataxó, preso pela Polícia Federal com apoio da Força Nacional de Segurança em uma ação realizada na semana passada no território indígena de Barra Velha, em Porto Seguro.
Durante o protesto, a rodovia foi completamente interditada. Imagens aéreas mostraram a longa fila de veículos e o momento da liberação do tráfego. Um dos episódios mais tensos da manifestação ocorreu quando a empresária Elaine Tschaen Schneidem, de 40 anos, tentou furar o bloqueio com seu caminhão. O veículo foi depredado e incendiado por manifestantes.
De acordo com relatos da empresária, ela foi interceptada pelos indígenas após ver outros veículos passarem. Vídeos divulgados nas redes sociais mostram Elaine sendo retirada do caminhão, conduzida até agentes de segurança e com o rosto marcado com urucum — tinta vermelha usada em rituais indígenas. Ela afirmou que teve o cabelo puxado, foi empurrada ao chão e teve o celular quebrado. A Polícia Civil informou que a mulher registrou boletim de ocorrência pelos crimes de dano e ameaça.
Apesar do episódio, a PRF classificou a manifestação como pacífica.
Prisão do cacique
Welington Ribeiro de Oliveira foi detido na quarta-feira (2), junto com outras duas pessoas, sob acusação de porte ilegal de armas em área de tensão agrária. A prisão ocorreu durante uma operação da Polícia Federal na terra indígena de Barra Velha, localizada em Porto Seguro.
A Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), entidade que representa o grupo, repudiou a prisão, afirmando que o cacique é defensor de direitos humanos e alvo de constantes ameaças. Para a organização, a detenção foi injusta.
O Conselho de Caciques do Território Indígena Barra Velha de Monte Pascoal também se manifestou em nota, classificando a prisão como “politicamente motivada e persecutória”. Segundo o texto, não houve mandado judicial e a ação teria como objetivo incriminar uma liderança ativa na luta pelos direitos dos povos originários.
A nota também denunciou maus-tratos contra os detidos. Segundo a entidade, além do cacique, três adolescentes foram presos e teriam sido torturados física e psicologicamente durante o transporte, em um trajeto com cinco paradas marcadas por agressões e ameaças, caracterizando, segundo a denúncia, violação de direitos humanos.