Silenciosos e poderosos, GenX dita as decisões nas salas de reunião, atrelado à responsabilidade de gerir equipes. Em um cenário ainda marcado por desigualdades, as mulheres enfrentam caminhos mais longos e tortuosos até o topo empresarial.
O relatório internacional ‘Ipsos Generation Report 2025’ elegeu os nascidos entre os Anos 60 à 80, pertencentes à GenX, como a idade média entre CEO’s da Fortune 500. Ocupando a elite empresarial, a Ipsos retira os holofotes ruidosos da Geração Z e transfere as regras do mercado global para a silenciosa Geração X, que ocupará até 2030 os cargos de liderança na política, negócios e vida familiar no ocidente.
Silenciosos e poderosos, a GenX é a geração com maior renda nos EUA, superando os Baby Boomers e os Millennials. O levantamento da Ipsos indica que, apesar de não estarem no ‘Hall da Fama’ das gerações, a GenX esticou o tempo de permanência no mercado de trabalho, e ditará o centro da vida empresarial por, pelo menos, até a próxima década.
Com seus trabalhadores caminhando para uma idade produtiva de mais de 70 anos, a geração que cresceu em meio às dinâmicas culturais dos Anos 80, como a série de TV Friends e ao repertório de Celine Dion, representam 20% da população adulta na União Europeia (UE), com uma parcela populacional estimada em 88 milhões de pessoas. Apesar dos holofotes, a GenZ ainda figura por baixo, com uma fatia de 18% e o contingente total de 81 milhões de jovens.
Líderes na conquista do ensino superior nos Estados Unidos, os membros da GenX detêm um poder considerável na sala de reuniões. À frente do poder de decisão, a Diretora de Publicidade na Prefeitura Municipal de Salvador (PMS), Lília Lopes, 51, integra o seleto time de líderes do setor público, detendo a árdua responsabilidade de gerir perfis geracionais diversos e múltiplas expertises, não apenas da sua equipe, mas do público que irá conversar com cada campanha produzida.
“Independente da geração com que estamos dialogando, toda liderança precisa entender bem quais as características mais aguçadas de um profissional para integrar o time. No entanto, na hora de montar esse time produtivo, com variados olhares e expertises, aí sim entra o equilíbrio geracional. Essa camada de gerações irá equilibrar bem o papel da GenZ (ansiosa, disruptiva, exploradora) com os membros das gerações mais velhas, X ou Boomers, que trabalham com excelência processual, metodologia e background. Quem souber extrair o melhor desses perfis, certamente sairá à frente no mercado de trabalho”, relata a publicitária.
Somando quase 30 anos de experiência no mercado de Comunicação Digital, Marketing, Publicidade e Política, Lília encabeça um time de profissionais que vai do jovem aprendiz ao servidor público sênior – com mais de 30 anos de atuação pelo serviço público. Com a responsabilidade intrínseca do poder de decisão, atribuída ao perfil geracional da GenX, a publicitária entende que o alinhamento de um olhar plural beneficia as equipes intersetoriais e acrescenta uma vantagem competitiva no mercado.
A observação pontuada por Lília é apoiada pelo relatório atualizado ‘Why diversity matters’, da McKinsey & Company. O estudo indica que a diversidade étnica e cultural da equipe de liderança está correlacionada com a lucratividade, enquanto a diversidade de gênero nas equipes acresce a receita em cerca de 21%. Para a especialista, o dado reflete a sua própria vivência à frente de uma equipe multidisciplinar na Prefeitura.
“É interessante esse olhar, afinal, por um lado você tem o jovem aprendiz ou estagiário, que está começando agora, ansioso, querendo tudo para ontem. Esse mesmo jovem traz uma fome de realização, velocidade de comunicação, atualizações constantes, novas fontes, interações e ambientes explorados com o espírito inquieto que essa turma carrega. Já os profissionais mais experientes são fontes de conhecimento, trazendo consigo experiências diversas e consolidadas, mas notamos a dificuldade em revisitar alguns saberes ou se adaptar às novidades. Apesar de tudo, é nas simples reuniões de pauta que os mais experientes trazem a riqueza e excelência processual, com conhecimento e metodologia”, explica.
Lília afirma que não precisa ir longe, como a logística de grandes eventos, seja o Rio2C ou Energy Summit, mas no próprio cotidiano, na riqueza dos pequenos detalhes é que as percepções diversas geram resultados. Além disso, sua vivência estratégica no ambiente digital — especialmente ao lidar com os desafios de alcance e segmentação — a fez perceber, aos 51 anos, que a comunicação precisa ser profundamente fragmentada para, de fato, atingir públicos nichados em suas diferentes camadas.
“Ter essa equipe multidisciplinar em minhas mãos foi uma virada de chave para mapear uma comunicação nichada. Aprendi a distribuir recursos e investidas de acordo com a mensagem, o público-alvo e a verba. O resultado é o sucesso. Existe até um certo estigma de que o sucesso da comunicação da Prefeitura é desenvolvido por uma pessoa da Geração Z, mas saber aplicar a linguagem correta para o tipo de mensagem que você quer transmitir, isso sim conversa com o público heterogêneo. É uma teia complexa. Imagine o trabalho que é gerir 30 campanhas ao mesmo tempo, saber como alcançar e por onde, com qual linguagem e investimento”, exemplifica.
Geração X e a presença feminina
Diante dos estigmas que rondam as gerações, o público feminino segue como o mais atingido. Ainda segundo a Ipsos, dos 500 CEOs da Fortune, sejam eles da Geração X ou não, apenas 52 eram mulheres em 2024. No entanto, a pesquisa informa que o público feminino da GenX superou os homens em seus níveis de educação pela primeira vez, nos Estados Unidos.
De acordo com Lília, as mulheres carregam consigo soft skills genuínas e ancestrais. A profissional explica que as mulheres, desde a antiguidade, sempre foram excelentes administradoras, mediadoras de conflito, conselheiras e atentas às minúcias do cotidiano. Dessa forma, Lília reflete o contraponto positivo do feminino nas lideranças: o olhar sensível, atento, intuitivo e conciliador, em meio à personalidades e culturas empresariais diversas.
“Quando comecei a ativar esse olhar feminino de forma consciente, percebi o quanto ele é transformador. Hoje, o que falta é justamente a capacidade de aceitar o outro, de dialogar, de saber conviver. Durante muito tempo, achei que precisava ser ‘durona’ para ser respeitada. O arquétipo de bater na mesa, impor a voz, assumir um comportamento masculinizado. Hoje, em toda reunião que entro, tenho o privilégio de ouvir antes de falar. Tentar ser dura o tempo todo me fez perceber que alcançar as pessoas é mais difícil do que parece”, relata.
Com passagens por grandes agências de comunicação nos estados da Bahia, Pernambuco, Ceará, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, Lília ocupou a liderança de grandes projetos no setor público e privado. Com o olhar feminino potencializado pelas relações e suas diversidades, a especialista explica que não adianta ter uma verba milionária se a estratégia utilizada não souber usar o melhor da expertise dos seus colaboradores. “A habilidade do poder feminino tem essa sabedoria de captar o que não está sendo dito, e isso só se alcança quando você se posiciona nesse lugar com consciência. Esse é o nosso diferencial”, conclui.