Especialistas apostam em ´baixa artificial´ e defendem investimentos para aumentar produção brasileira

Depois de atingir a marca de 11 mil dólares na Bolsa de Nova York em novembro, o preço do cacau iniciou o mês de março na casa dos 7 mil dólares a tonelada, uma queda acentuada de quase 30%, quando as expectativas eram de manutenção da alta em 2025, por causa da acentuada queda de produção na Costa do Marfim e Ghana.
Provocada por mudanças climáticas e doenças como a swollen shoot, a produção na África desabou, provocando escassez num mercado em expansão e beneficiando diretamente os agricultores brasileiros, que durante anos sofreram com preços que mal cobriam os custos e desestimulavam investimentos na lavoura. Em março de 2024, a arroba de cacau estava na casa dos 300 reais, em novembro cruzou a barreira dos mil reais e nesta quarta-feira está sendo comercializado na média de R$ 750,00 o certificado tipo 1.
Especialistas do mercado do cacau entendem que essa queda de preços não irá se sustentar em 2025 e apontam especulação por parte das grandes multinacionais processados, forçando artificialmente a cotação para baixo.

O entendimento é que os países africanos, que respondem por 72% da produção vão demorar para atingir níveis de anos anteriores e a produção brasileira, que representa apenas 5% do cacau mundial, não tem condições de atender uma demanda crescente por chocolate, especialmente em mercados com enorme potencial de crescimento, como a China, onde existem pelo menos 300milhoes de pessoas com alto poder aquisitivo, além da Índia, que avança em seus indicadores socioeconômicos.
INCERTEZAS E OPORTUNIDADES

Existem ainda a incertezas na geopolítica após a posse de Donald Trump, com os Estados Unidos se aproximando da Rússia de Vladimir Putin e confrontando a Europa, o que gera incertezas em commodities agrícolas como o cacau, criando tanto oportunidades quanto abalos para as amêndoas brasileiras.
Esses mesmo especialistas entendem que para quem encarou preços irrisórios, a arroba de cacau na faixa de 800 a 900 reais a arroba se torna uma lavoura altamente atrativa, o que justifica investir no aumento da produtividade, com a adoção de novas tecnologias e práticas de manejo.

Para isso, segundo eles, é necessária a adoção de políticas públicas que garantam crédito a uma lavoura descapitalizada após anos de penúria.
IMPACTO NA ECONOMIA
“O Brasil tem condições de assumir o protagonismo na produção de cacau e para isso o apoio do governo é fundamental, seja através de programas de financiamento a juros compatíveis, seja no controle de cacau importado da África, que traz grandes riscos de doenças que não estamos preparados para combater”, afirma a presidente da Associação Nacional dos Produtores de Cacau, Vanuza Barroso.
Adilson Reis, especialista em mercado de cacau, destaca que em 2023, com um preço médio de R$ 266,24 a arroba gerou uma receita de 1 bilhão e 880 milhões de reais no Sul da Bahia, em 2024, com o preço médio de R$ 783,85 a arroba, a receita atingiu 5 bilhões e 530 milhões de reais. “Com a ampliação do projeto Cacau 500@ + Sustentável, uma iniciativa já em execução pelo Instituto Chocolate caso atingirmos a produção de 50 arrobas por hectare, a receita com o cacau pode chegar a 17 bilhões de reais”, diz Adilson.